Paralisia Cerebral
Paralisia Cerebral
O termo paralisia cerebral é utilizado para definir uma desordem que se caracteriza por alteração do movimento, como consequência de uma lesão irreversível, não progressiva do cérebro em desenvolvimento. Cada área do cérebro é responsável por uma determinada função, como por exemplo, os movimentos dos braços, das pernas, a visão, a audição, a inteligência, entre outros. Uma criança com paralisia cerebral pode apresentar alterações que variam desde uma leve descoordenação dos movimentos ou maneira diferente de andar até uma inabilidade para segurar um objecto, falar ou deglotir.
O desenvolvimento do cérebro tem início logo após a concepção e continua após o nascimento, pelo que quando ocorre qualquer factor agressivo ao tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas mais atingidas verão a função comprometida e, dependendo da agressão, algumas alterações serão permanentes, constituindo uma lesão não progressiva.
De acordo com a Associação Médica Americana, 90% dos casos de paralisia cerebral ocorrem antes do parto ou durante o mesmo. Entre as causas que concorrem para as lesões provocadas no cérebro incluem-se:
Infecção materna com rubéola ou quaisquer outras doenças víricas que se manifestem durante a gravidez;
Parto prematuro;
Falta de oxigenação da criança devido a separação prematura da placenta;
Posicionamento inadequado do bébé no momento do parto;
Trabalho de parto demasiado prolongado ou demasiado abrupto;
Problemas com o cordão umbilical;
Incompatibilidade associada ao Rh ou ao grupo sanguíneo (ABO) dos pais;
Falta de cuidados pré-natais adequados;
Traumatismos cranianos resultantes de acidentes, de quedas ou de abusos físicos de crianças;
Infecções cerebrais.
De acordo com Nielsen (1999) existem três tipos fundamentais de paralisia cerebral: a paralisia cerebral espástica, a paralisia cerebral atetóide e a paralisia cerebral atáxica.
O primeiro tipo de paralisia é o mais habitual. Os indivíduos apresentam músculos rígidos, contraídos e resistentes ao movimento. São incapazes de cruzar as pernas a nível dos tornozelos. O movimento é sempre lento. Existem situações em que os músculos das pernas estão tão contraídos que os calcanhares não tocam o chão e a pessoa tem de caminhar na ponta dos pés. Nestes casos, a terapia física, a utilização de aparelhos de gesso e/ou cirurgia ortopédica podem contribuir para a qualidade de vida do indivíduo com paralisia cerebral.
O segundo tipo, paralisia cerebral atetóide, caracteriza-se pela existência de movimentos involuntários das partes do corpo afectadas, tais como esgares faciais e torção das mãos. Há a possibilidade de a língua poder descair, saíndo da cavidade bucal e de escorrimento de saliva. O corpo pode ser percorrido por movimentos involuntários, súbitos, bruscos e ondulatórios. Por vezes, estes indivíduos são considerados, incorrectamente, como instáveis a nível emocional ou mental.
O terceiro tipo, paralisia cerebral atáxica, caracteriza-se por falta de equilíbrio, de coordenação e de percepção dimensional.
A gravidade desta deficiência pode variar de acordo com a afectação de um ou vários centros motores
Em termos esquemáticos a Paralisia Cerebral pode traduzir-se em:
Problemas do tónus muscular; Problemas de postura; Problemas de movimento/movimentos involuntários; Espasmos; Convulsões; Problemas respiratórios; Problemas sensoriais (visão, audição); Problemas perceptivos; Problemas comunicativos, a nível da linguagem e da fala; Problemas psíquicos; Problemas cognitivos; Problemas de memória; Problemas de atenção, entre outros.
Estas perturbações podem surgir associadas ou individualmente, determinando a maior ou menor gravidade do caso. No caso dos problemas sensoriais irão afectar determinados processos cognitivos na base de qualquer aprendizagem, como por exemplo, a atenção, a memória e a percepção. Detectadas as dificuldades deve estabelecer-se um programa de treino em que se tente proporcionar ao aluno experiências que não pôde adquirir por si próprio, mercê das suas dificuldades motoras. Neste sentido, importa trabalhar esquemas perceptivos, no que implica lateralidade, direccionalidade, orientação, estruturação espácio-temporal e esquema corporal. Os problemas de fala (disartrias) são muito frequentes devido a: ¨ Respiração irregular, insuficiente e descoordenada; ¨ Espasmos e descoordenação dos músculos da laringe, da língua, dos lábios, face e maxilares; ¨ Falta de coordenação entre a respiração e a articulação; ¨ Deficiente controlo auditivo e visual; ¨ Problemas intelectuais e emocionais; ¨ Problemas de lateralidade.
A aquisição da linguagem e a aprendizagem da formação sintáctica da frase podem estar atrasadas. Relativamente à linguagem expressiva é difícil, por vezes, saber se se trata de uma perturbação motora que impede a fonação e a articulação, de uma afasia motora ou de uma inibição afectiva ou emocional. Também a baba frequente, a deformação da face e da boca, a dificuldade em manter a cabeça e o tronco direitos podem dificultar a correcta articulação. Para Muñoz, Blasco & Suárez (1997) o tratamento da paralisia cerebral deverá começar o mais precocemente possível por forma a evitar que os problemas e dificuldades se consolidem. O tratamento comtempla diversos vectores: motricidade, terapia da fala e terapia ocupacional, défices sensoriais e utilização de próteses ou outro material ortopédico, se necessário. Pressupõe uma equipa multidisciplinar que trabalhe não apenas os problemas motores mas também os que lhe estejam associados. A criança com paralisia cerebral, dependendo da sua problemática, pode e deve ser integrada na escola de ensino regular. Isto exige um estudo prévio das suas características e necessidades, com o objectivo de conceber um plano de intervenção adequado e facultar os recursos necessários que possibilitem a sua implementação e acompanhamento.
|